Uma das coisas mais difíceis para uma banda é manter regularidade em termos de qualidade nas apresentações ao vivo, principalmente porque isso depende, na maioria das vezes, dos equipamentos de baixa qualidade oferecidos pelos bares e pequenas casas de show. O resultado disso é um grande desgaste, que vai se acumulando ao longo do tempo e prejudicando os objetivos da banda, ainda mais se você considerar que, além do problema da qualidade de som, os cachês são muito baixos também. Existe alguma saída?

O único caminho é usar a inteligência, conhecer um pouco de áudio e ir estruturando a banda aos poucos para que tenha seu próprio equipamento. Para shows em bares, por exemplo, uma mesa de 16 canais com boas potências, caixas importadas, e 3 vias e alguns efeitos trarão um resultado acima da média. Esse set não é tão caro se for dividido pelos componentes da banda, mas vamos começar devagar: antes disso tudo, mesmo dependendo do equipamento das casas, o que é importante a banda ter?

Amplificadores de boa qualidade. Na verdade isso diz respeito ao set individual de cada músico, mas é muito importante a banda estar equilibrada em todos os instrumentos. Imagine uma banda com dois guitarristas; o primeiro tem um Fender ou Marshall valvulado de 60 watts, uma boa guitarra e racks de efeitos; o segundo tem um Crate ou algum outro amplificador mais “popular” e uma guitarra coreana com uma pedaleira zoom ou RP10. Como ficará o som? Torto, é claro. Também é claro que isso não implica em substituir o guitarrista mal equipado, porém alguém tem que estar atento a esses detalhes para equilibrar o som.
Cabos em bom estado – parece óbvio mas, quando você acha que esse problema já foi resolvido, pode ser surpreendido de novo.
Um efeito para os vocais – muitos bares nem têm isso. A banda tem que levar os seus próprios assessórios . Fita crepe, extensões, benjamim, ferramentas, lanterna e outros apetrechos são fundamentais para se adaptar às casas de show. E sempre ter sobressalentes, não só desses equipamentos como de cordas, cabos, palhetas…
Indo um pouco mais além, é ótimo quando uma banda chega ao ponto de poder ter seu próprio técnico de som. Com certeza os músicos ficam mais tranqüilos sabendo que há alguém de confiança pilotando a mesa de som, à disposição para resolver eventuais problemas durante o show. O técnico deve ser como um membro da banda, conhecer as músicas, ter atribuições e responsabilidades, e ganhar um cachê como todos os outros músicos.
Conforme a banda vai sobrevivendo, ela ganha condições de se estruturar melhor e ter seu próprio equipamento de palco e um P A pequeno, para shows de até 100 ou 200 pessoas. Nesta fase, com certeza a presença do técnico de som é fundamental. Veja algumas dicas para que seu som e a performance de sua banda fiquem num nível mais profissional:

Elimine os cabos de som dos instrumentos e microfones, trocando-os por transmissores sem fio – além de ganhar mobilidade e deixar o palco mais limpo, os chiados diminuem
No caso dos guitarristas estarem tocando com distorção pesada, um noise gate é imprescindível para que o silêncio seja absoluto quando a banda termina de tocar.
No caso de a banda ter um técnico de som, ele deve ensaiar como um músico, utilizando efeitos como delay e flanger durante as músicas, dando assim sua contribuição aos arranjos. Isso pode ir muito além da simples utilização efeitos; dependendo do tipo de som, você pode inserir efeitos sonoros, samplers e tudo mais que a tecnologia coloca hoje à disposição dos músicos.
Ë importante levar para o palco as regulagens todas presetadas, conforme tenham sido combinadas nos ensaios, deixando apenas para acertar o volume do P.A. do público. Isso garante maior estabilidade emocional aos músicos, que já estarão acostumados com a sonoridade, pois talvez a pior coisa em shows ao vivo é tocar sem estar ouvindo algum dos outros músicos.
Equalizadores são importantes para adaptar o som aos diferentes ambientes dos shows. Microfonia é a maior pedra no sapato dos técnicos de som, e o que mais encomoda os músicos. Com os equalizadores você pode eliminar essas “sobras”, achando as freqüências que estão “a mais” no palco. Geralmente a microfonia aguda dos microfones pode ser eliminada atenuando-se a freqüência de 5Khz. As sobras de graves geralmente estão nas freqüências de 100Hz, 125Hz ou 160Hz. Sejam quais forem, depois de localizadas você pode atenuar todas as oitavas da freqüência (100Hz, 200Hz, 400Hz, 800Hz, 1600Hz, 3200Hz, etc.). Outra coisa importante: nos retornos de palco (monitores) tire todas as freqüências de 80Hz pra baixo. Parar evitar microfonias também é importante saber qual tipo de microfone está sendo usado, para posicionar corretamente o retorno. Se o mic for cardióide (os SM58 da vida) posicione o retorno exatamente atrás do microfone (é a região onde ele não capta som); se for hipercardióide, ele também capta som pela parte de trás, mas como é direcional, capta pouco dos lados (então os retornos devem ser posicionados ao lado do pedestal). Você deve ter domínio do seu equipamento para poder aproveitá-lo melhor – essa é mais uma razão para que a banda tenha um técnico de som entendido no assunto.
É fundamental ter disciplina quanto aos horários de chegada e passagem de som no local do show, para evitar surpresas e resolver eventuais problemas. Às vezes uma passagem de som teoricamente tranqüila fica complicada e acaba a poucos minutos do início do show. Quando, na hora do espetáculo, acontecem problemas que poderiam (e deveriam) ter sido resolvidos anteriormente, o astral da banda vai pro buraco.
Todos os músicos devem saber que as alterações emocionais nos shows são inevitáveis, portanto o que você excecuta com sua banda não deve ultrapassar 70 ou 80% da sua técnica, para que a performance seja sempre regular e tranqüila – sempre convém deixar alguma reserva de competência para os imprevistos, inclusive para quando o público estiver jogando tomates em vocês.

A banda deve ser como um time esportivo, onde todos se ajudam. Quando o show acaba, em vez do vocalista guardar seu microfone e puxar o carro, ele deve ajudar a desmontar todo o equipamento, de modo que ninguém fique sobrecarregado. Este exemplo é dado com o vocalista porque ele é quem carrega menos coisas (seu instrumento já está “dentro” desde que ele nasceu), mas isso vale para qualquer componente da banda. Pequenos detalhes como esse é que vão desgastando os projetos musicais, deteriorando de maneira desnecessária o relacionamento dos integrantes da banda.
Lembre-se: planejamento e profissionalismo acima de tudo. Isto feito, pode cair na farra…

Boa sorte!

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